
Ecos do passado Parte 2
A fabrica, era na verdade um barracão de madeira bem comprido, que gemia e estalava quando sentia o vento frio empurrar suas paredes.
Pendiam do teto, um ao lado do outro, enormes ganchos já enferrujados e surrados pelo tempo, que eram usados para pendurar e secar o couro. Na minha cabeça, aqueles ganchos que batiam e tilintavam com o vento pareciam aqueles, que seguram enormes pedaços de carne dentro da câmara fria de algum frigorífico.
Algumas cadeiras de ferro por ali ainda serviam de assento pros fantasmas mais sofridos.
Tinha duas janelas apenas, na mesma direção, em lados opostos uma de frente para a outra. O clarão da lua entrava por ambas, e clareava apenas o chão de concreto abaixo delas, que colaborava para que o ar fosse grosso e muito frio. (achei no mínimo estranho um barracão de madeira ter um chão de concreto, mas nem dei muita atenção pra isso). Uma encarava a estrada de onde tínhamos vindo e a outra estava sempre contemplando o bosque, mais precisamente, podia-se enxergar muito bem uma clareira, quando olhando com olhos atentos. Foi ali, na base daquela janela, que posicionamos duas cadeiras, e nos sentamos um em cada canto da janela olhando para aquela clareira.
-Olhe naquela direção garoto. Você agora vai entender o motivo pelo qual as pessoas têm medo do escuro.-
Eu estava sentindo uma mistura de medo e ansiedade, meus sentidos estavam aguçados, e minha mente fabricava as mais grotescas cenas, induzida pelo barulho do vento e o clima do ambiente. Olhando fixamente naquela direção, começou a se formar uma sombra, vinda de dentro do bosque pro centro daquela clareira.
Quando a luz da lua iluminou sua silhueta, meus olhos contemplaram com um pavor obscuro, aquela criatura toda torta, tentando arduamente se equilibrar em cima de duas pernas magras ressequidas. Nunca, nem no meu pior pesadelo, eu tinha visto uma coisa daquelas. Era um monstro, que tinha mais ou menos a altura de uma criança de 10 anos, possuía cabeça, braços e pernas, como de um ser humano. Olhos grandes e brilhantes, o corpo era todo retorcido, andava cambaleando parecia que seus membros estavam todos quebrados, se movia com dificuldade, e estava sem nenhum tipo de vestimenta. Tinha uma boca que começava abaixo do nariz como é de se esperar, mas não possuía a parte de baixo do maxilar, apenas o céu da boca, alguns dentes e a garganta dilacerada.
A criatura andava por alguns segundos, e logo caia violentamente, se debatendo e se machucando numa tentativa frenética de levantar, uma vez que seus braços e pernas, não exerciam sua função como deveriam, em virtude do corpo todo repuxado e deformado. Agoniava-me o espírito, ver aquela abominação se contorcendo, batendo sua cabeça violentamente no chão, uma vez seguida da outra como se quisesse se matar, pintando o chão de vermelho com o sangue que e esguichava de cada pancada. Quando conseguia se levantar mostrando seu corpo manifestado e invocado pelo ódio, soltava guinchos e urros de dor, que eram levados pelo vento e podiam ser ouvidos a quilômetros de distancia. Esses urros penetravam numa parte da minha alma que eu não sabia que existia e me provocavam um frio que me gelava os ossos.
O velho olhava para o monstro e rezava aves Maria sussurradas, para que ele fosse embora sem olhar na nossa direção e não colocar-nos um mal agouro com seus olhos brilhantes e vazios. A criatura sangrou e sofreu por ali por mais alguns minutos que pra mim pareceram horas, o que já estava se tornando uma constante naquela noite.
-Isso foi só o começo menino. Daqui pra frente a imagem que você faz do demônio, vai ser a mais bela das obras comparada as formas das bestas que você ainda está por ver nessa noite.-
Assim que ele terminou a frase, uma nova atração tomou forma naquele palco das perversidades. E Deus sabe, que eu nao estava nem um pouco preparado para o espetáculo imundo, perverso e perturbador que ali havia acabado de começar, e duraria ainda por varias horas naquela madrugada.
By: Zakk. Caretaker